Calma lá que, apesar do título deste texto, não vou abordar nenhuma questão muito profunda. Aqui não é o lugar para pensar a respeito do esquecimento, de como a vida é passageira, do legado que deixaremos na Terra e de como seremos lembrados ou se nos desfaremos no mundo dos mortos por todos nos terem esquecido. Deixemos as questões realmente importantes para outra hora ou para alguém mais conhecedor desses assuntos soturnos.
Não: estou falando sobre algo bem pé-no-chão da vida de quem escreve e tem pretensão de publicar suas obras. E da construção de uma carreira literária, de uma sequência de publicações, da identidade como autor.
Há alguns meses (ou anos? O tempo passa tão depressa quando viramos adultos preocupados com boletos), o Artur Vecchi, da AVEC Editora, me disse que estava na hora de publicar algo novo, antes que as pessoas me esquecessem. Em 2020 publiquei pela AVEC meu livro mais recente, Ex Libris. Só agora, cinco anos depois, é que vou publicar algo novo, pela fofa Editora Crisálida.
Trato como uma piada o fato de que publico um livro a cada cinco anos, até porque é verdade e não é proposital! Entre cada um deles, aprendi muito sobre os processos editoriais e me tornei um escritor melhor, além de também um publicador de livros melhor (eu não me chamaria de editor quando estou publicando meus próprios livros, embora até certo ponto seja esse o caso). Mas, a partir da frase do Artur, fiquei me perguntando se cinco anos é tempo demais entre cada lançamento.
Me sinto apequenado toda vez que vejo gente publicando obras a torto e a direito, com a frequência com que trocam de roupa, um novo lançamento a cada seis meses ou até menos. Gente que publicou o primeiro livro depois do meu último e desde então já tem mais publicações do que eu no total, que comecei em 2010 (com muita inexperiência e ignorância, é verdade). Nesse caso nem é inveja. É uma comparação na qual me pergunto se essas pessoas são muito rápidas ou eu é que sou muito devagar.
Também não estou fazendo juízo de valor algum com relação à qualidade das obras minhas e desses publicadores compulsivos de livros, porque não vem ao caso. Fico é me perguntando se essa gente realmente escreve muito mais rápido do que eu, que abro um espumante se escrevo uma página por dia, ou se têm muita coisa guardada na gaveta. Será que terminam todos os projetos que começam e por isso têm mais material? Eu comecei um monte de coisas desde 2020, mas muitas delas não foram para frente.
Se eu abrir a minha gaveta metafórica de livros escritos, tenho muita coisa armazenada, mas praticamente nada publicável. A única coisa publicável é a que vai sair neste ano, um livro que escrevi ainda em 2020 e não venceu um prêmio literário (a quantidade de coisas que “não-venceram-um-prêmio” na minha gaveta é bem grande). Desde então, comecei um projeto de livro policial que abandonei em pouco tempo, escrevi alguns contos e já estou na terceira versão do mesmo livro que escrevo há anos.
Poderá ser esse o motivo para o meu atraso em publicar, perfeccionismo? A insistência em reescrever a mesma coisa até ficar ótima pode ser um tiro no pé na hora de manter um calendário estável de publicações. Por outro lado, a garantia de que a versão publicada será a melhor de todas é tentadora demais para que eu me permita entregar algo diferente.
A questão à qual eu queria chegar, entretanto, não era nem sobre a produção de livros, mas a recepção deles. Tem muito a ver com o que esperamos, hoje em dia, das redes sociais, e o comportamento que as redes sociais esperam da gente também. O Instagram (maldito!) recompensa quem posta com frequência, normalmente uma frequência brutalmente alta, do tipo “se você tem outro trabalho, esqueça”. O mesmo acontece com o TikTok, que apesar de ser bem mais piedoso, dá preferência a quem posta com regularidade. Até o próprio Substack, onde esta newsletter está hospedada, é um lugar onde manter uma periodicidade de publicação é benéfico.
Nesses casos a própria plataforma tem influência direta nos resultados, o que não é bem o que acontece com os livros. Ainda assim, a comparação faz sentido porque quem não é visto, não é lembrado, todo mundo sabe disso. Não à toa nisso se baseia toda a lógica da publicidade, não é? É bem mais provável topar com um influenciador que posta com frequência do que com um que posta só de vez em quando, quando dá na telha (ainda que esse seja o meu estilo caótico e relaxado de postar na internet).
O mesmo se aplica à publicação de livros e sei que é sobre isso que o Artur estava falando quando me disse que as pessoas me esqueceriam. A cada cinco anos sai um livro do tal Fabio Brust (quem?). É muito mais coerente manter uma frequência de lançamentos mais alta e cuidar de um público cativo do que a cada nova publicação ter de buscá-lo de novo, muitas vezes criando-o do zero toda vez. Aconteceu comigo nas três primeiras obras. Em todas, precisei usar uma estratégia diferente para conseguir leituras, normalmente de pessoas diferentes toda vez. Se publicasse a cada dois anos, ou até a cada um!, eu não precisaria resgatar todas aquelas pessoas que já não se lembravam de mim ou do que escrevi. Poderia simplesmente seguir em frente.
É claro que isso não é muito simples e voltamos para o que eu estava falando sobre a produção de livros. Só é possível publicar bastante se se escrever bastante. Só dá pra escrever bastante com tempo. E adultos com boletos para pagar não têm tanto tempo assim. A coisa só piora quando esses mesmos adultos insistem em voltar para as mesmas histórias e fazer melhorias ao invés de publicá-las como estão.
Será que eu deveria largar tudo e me tornar escritor em tempo integral? Já considerei a possibilidade, mas eu gosto demais do meu trabalho para fazer isso. O ideal seria publicar mais, escrever mais, estar mais na mente do público que não faz nem ideia de quem eu seja… o jeito é contornar o problema de outras maneiras. É por esse motivo que comecei a escrever essa newsletter e, também, porque enveredei pelos caminhos obscuros do TikTok e do (cruzes) Instagram. Se não dou conta de publicar livros na velocidade em que deveria (que, convenhamos, ninguém sabe qual é), posso pelo menos tentar cuidar do meu público de outras maneiras. Pode até não ser um novo livro, mas é trabalho honesto.
A falta de tempo acomete também esta newsletter: era para ter saído na terça-feira, mas saiu na quinta. O motivo é que estou fazendo a cozinha da casa na companhia da estimada e nós mesmos estamos montando os móveis. O que não fazemos para que sobre um pouco de dinheiro após os boletos?
Quanto à publicação de livro que vai rolar ainda esse ano, que só comentei de passagem, está marcada para o fim de 2025. Por isso falei só de passagem: vai dar bastante tempo de falar sobre ela. Aguardem novidades!