Em 2023, aprendi a contar palavras.
Naturalmente isso não é algo de se orgulhar, porque mesmo uma criança seria capaz de contar palavras — ainda que sempre haja alguma confusão sobre se palavras curtas têm o mesmo peso do que longas: será que “e” e “do” valem tanto quanto “medalhão” ou “pedregulho”? —, mas fato é que, pela primeira vez na vida, tive uma noção clara do quanto escrevi em um ano.
Essa não é uma conquista minha, é claro; topei com um story da
no final de 2022 em que ela compartilhava uma planilha cheia de cores que, segundo ela, era o registro de palavras escritas por ela naquele ano. Depois de eu perguntar como ela fazia esse controle de palavras e das explicações que ela me deu, considerei que não havia nada a perder em abrir meu próprio registro (talvez um pouco de sanidade) e baixei o Excel com um objetivo fixo em mente.As explicações quase não eram necessárias, considerando a simplicidade da planilha. Acho que o meu cérebro avesso às ciências exatas se confundiu com todas aquelas diferentes cores e números — que pavor temos dos números! — e precisei de algum tempo para acalmar o coração antes de começar, mas, depois que abri a nova planilha, tudo ficou claro. Incapaz de compreender os mistérios do mais analítico dos programas de computador, coloquei os nomes dos meses embaixo para que a numeração das linhas batesse com o número dos dias e tã-dã, eis que a minha tabela de controle de escrita estava pronta.
Agora, o momento da verdade: foram 78.766 palavras escritas ao longo do ano passado, incluindo essas que escrevi para a Tinteiro. E, para que as provas não me permitam mentir, anexo a seguir um print da planilha.
Se foi um ano bom do ponto de vista da escrita? Eu não saberia dizer, afinal de contas, nunca antes tinha contado as palavras que saíram do meu teclado. Entretanto, foi um dos melhores anos dos últimos tempos, porque ter esse registro foi, em parte, o que me motivou a escrever mais.
Como vocês podem ver, nunca escrevi mais do que sete dias seguidos, porque normalmente a vida tem o péssimo hábito de entrar no caminho. Quando viajo ou estou em momentos atribulados, com muito trabalho, tenho costume de passar muito tempo sem escrever — como no começo de janeiro, meio de março e abril e fim de dezembro. No miolo de 2023 passei três meses praticamente sem escrever devido à minha mudança de casa.
Caso estejam se perguntando o que as cores significam, fica logo a explicação:
Roxo: meu projeto principal, o romance A Idade do Pó;
Cinza: um conto que virou microconto e talvez vire conto outra vez chamado Prata;
Vermelho: considerando que aparece mais ou menos uma vez por mês, é fácil de descobrir que é a newsletter Tinteiro (a que você está lendo, já esqueceu o nome, foi?);
Laranja: o malfadado conto 1799, 1800 que foi tema de um texto nesta newsletter (refrescando a memória: escrevi o conto para inscrever na revista Suprassuma e passei da quantidade máxima de caracteres por ter lido o edital errado).
Foi bastante coisa. Mais do que costumo escrever, menos do que eu gostaria. Em novembro, não consegui bater a minha meta de NaNoWriMo falso em que escreveria durante todos os dias do mês — falhei já no dia 6 —, mas estou orgulhoso. Como escritor, o mínimo que devo fazer é escrever, e fracassei nessa tarefa vezes demais para o meu gosto sem saber que o estava fazendo. Agora pelo menos eu sei.
A Tinteiro, claro, também me auxiliou a destravar a escrita em muitos momentos, porque o compromisso de aparecer por aqui acabou me motivando — ainda que a audiência nem perceba quando é a primeira terça-feira do mês e o texto não chega na caixa de entrada, como aconteceu neste janeiro. Mesmo assim, é motivação suficiente para me dar um gás aqui e também nos meus outros projetos.
Por muito tempo fui daquelas pessoas que esconde seus planos e sonhos com medo de que jogá-los para o mundo seja uma maneira de sabotá-los. Só anunciei que estava me mudando para Portugal por dois anos quando praticamente já estava em terras lusitanas. Fui tão cauteloso na inscrição do Prêmio Pólen de Literatura, em 2018, que as pessoas acharam que a novidade que eu tinha para contar era que minha então noiva (agora esposa) estava grávida.
Para tentar sabotar a sabotagem, decidi compartilhar aqui as minhas metas literárias para 2024. São todas metas alcançáveis, já que dependem de mim (eu jamais colocaria como meta vencer um prêmio, apenas me inscrever nele). Eis:
Terminar de escrever A Idade do Pó a tempo de submeter o livro para o meu prêmio do coração, o Prémio LeYa;
Publicar o livro que já está há dois ou três anos na gaveta, esperando para ser trabalhado, O Outro Lado. A forma de publicação está em aberto;
Me comprometer na escrita desta newsletter e não deixar de postar em nenhum mês. Se tudo der certo, postar mais do que uma vez por mês?;
Continuar postando e crescendo no meu TikTok literário.
Pés no chão, olhos no horizonte. É possível que eu não consiga cumprir essas metas? Sim, mas vou me esforçar para batê-las e, é claro, seguir preenchendo a minha planilha de escrita. Só depende de mim chegar às 80 mil palavras!
A ideia é que a Tinteiro seja enviada toda primeira terça-feira de mês porque é o meu dia preferido da semana. Dessa vez não rolou, até porque a quantidade de newsletters que recebi na primeira semana de 2024 foi enorme e eu não queria lotar a caixa de entrada de ninguém — nem ser esquecido em um mar de outros e-mails. Esta é a segunda versão do texto; a primeira ficou péssima porque eu escrevi enquanto olhava para todas as pessoas felizes aproveitando as férias na praia enquanto eu estava trabalhando dentro de casa (com vista da praia, é verdade, mas acaba sendo deprimente quando não se pode estar lá). Obrigado pela leitura!
Gosto muito de ler tuas letters, Fabio! Quem sabe eu não comece a contar minhas palavras também?
O ano é longo - lembre-se que temos um dia a mais! Quem sabe 80.000 seja uma meta que pode ser batida… e depois dobrada 😂