É tão irritante quando as outras pessoas estão certas!
Eu já cometi leituras críticas com outras pessoas que escrevem, mas nunca tinha passado por uma com meus textos. Já recebi várias leituras-beta, mas é inegável que a leitura crítica vem com mais peso e é mais aprofundada. Naquele sentimento de “ele é artista, tem que ficar sendo elogiado”, o que eu mais gostaria é de que a minha leitora crítica, a
, dissesse que tava tudo lindo com uma lágrima correndo do olho… ao mesmo tempo, uma boa parte de mim esperava críticas, já que a intenção era justamente recebê-las dela, e não de leitores frustrados com um livro publicado.Não vou negar que eu estava nervoso, algo que admiti à própria Fabiane. É sempre difícil colocar-se à mercê de críticas, mesmo quando nós estamos à espera delas. Mas como qualquer boa profissional, a Fabiane sabe muito bem como apontar as questões pertinentes da leitura crítica com delicadeza. Como eu disse, entretanto, o irritante é que ela tinha razão em tudo.
Eu já tinha ouvido uma prévia do que ela disse da boca da
(a estimada) e do , e em suas leituras-beta, e vou aproveitar esse espaço para já agradecer a todas essas pessoas, ainda que esses nomes todos (e o da , que fez a sinopse) já estejam garantidos nos agradecimentos do livro em si. Mas quando essas prévias vieram, foquei no que poderia resolver sem ter de reescrever o livro, que já estava em uma forma boa.Só que aí a Fabiane decidiu que eu precisava eliminar dois personagens.
Melhor dizendo, não foi uma decisão: foi uma sugestão à qual eu pouco a pouco me rendi. A Melinda é ruiva; o Nicolas usa óculos: essas são as contribuições dos dois para a trama. Tudo que envolve o Nico pode ser realocado para outro personagem e a Melinda fica muito melhor aparecendo de passagem do que zanzando por aí com os outros durante o livro inteiro.
Conforme a minha leitora apontava como a história ficaria mais forte sem os dois, mais eu concordava com ela. Era uma realidade que eu não queria ver. Eu preferia não ter de torcer o braço, retrabalhar o livro nesse nível, ao que ela me disse, com uma risada: “O que você tem de fazer é deixar de preguiça!”
Ela está certa, droga. Eu nem tenho motivo para ter preguiça, na verdade, porque eu adoro esses personagens, a cidade em que eles vivem, a Feira que eles frequentam, a trama em que estão envolvidos. Ter a chance de reviver esses acontecimentos com essas pessoas que me são tão queridas e, ainda mais, lapidá-los com as minhas mãos de dedos longos de escritor que minha mãe sugeria que fossem de pianista (não é tarde demais) é maravilhoso!
Então alegremente aceitei essa sugestão dela, a mais determinante dentre uma série de outras. Só que eu não sabia muito bem como abordar as mudanças, que incluem reforçar a narração, adicionar capítulos, retirar outros, diminuir a importância dos diálogos e, claro, aniquilar a Melinda e o Nicolas. Enquanto conversávamos, a solução óbvia que me surgiu era uma só: reescrever.
Não tenho medo de reescrita. É verdade que Ex Libris, meu livro mais recente (lançado no longínquo 2020), venceu um prêmio em sua primeira e única versão? Sim. Mas isso não significa que fosse perfeito, muito menos que não se beneficiaria de uma segunda versão. Mas é tarde para ele; ainda é tempo para A Idade do Pó, as páginas que contém — não, continham — a Mel e o Nico. Essa já é a segunda versão da história, e uma terceira, pra falar a verdade, é bem-vinda.
Por isso, arregacei as mangas metafóricas (estava de manga curta) e parti para a livraria comprar Conversas entre amigos, da Sally Rooney, uma sugestão de leitura enfática da Fabiane para aprimorar os diálogos e a narração. Depois, imprimi o meu original com o auxílio providencial de meu pai alimentando de papel a impressora da sua loja — mais um agradecimento, mas a família estaria lá de qualquer forma.
Agora estou com a faca e o queijo metafóricos nas mãos, pronto para cortar esses dois personagens e melhorar tudo o que já tenho. Me surpreende o quão empolgado estou para começar de novo, ao contrário do desânimo que achei que sentiria.
Mesmo assim… é tão irritante ter de dar o braço a torcer!
Aproveito para reforçar o quão bom é o trabalho da Fabiane, tanto como escritora quanto como leitora crítica, e o quanto a admiro! É um privilégio ter meu texto lido por ela e, também, estar nas recomendações dela aqui no Substack.
Quanto à periodicidade dos textos, sigo com a intenção de torná-los mais frequentes, ainda que não tenha alcançado meu objetivo ainda, falhando a publicação na primeira terça-feira de novembro. Mas, ei, esse está saindo na terça-feira! Espero em dezembro voltar à forma.
Eu amo o seu drama em chamar esse texto de "Caixão para dois" ahahahah muito animado com o futuro dessa história, que já era boa e só vai melhorar daqui pra frente
eu tô louca pra ler esse livro! confesso que fiquei triste porque a reescrita significa que ele vai demorar mais pra sair. mas se precisa ser assim, guilhotina neles!! ansiosa pelo resultado